Amor é um desses termos que aprendemos ao longo da vida. À semelhança dos termos "papai" e "mamãe", cria-se um conceito pessoal do que venha ser amor. O amor aparece no filme; tem cheiro de perfume francês; causa arrepio; e a trilha sonora sempre é uma música maravilhosa - pra mim, "November Rain" do Guns n' Roses. Insatisfeitos, aqueles um pouquinho mais críticos chegam a se questionar buscando saciar o desejo primitivo de entender o porquê dessa vagueza. Contudo, sempre há um profeta, aquele exímio conhecedor das escrituras, aquele monge tibetano, aquele ser capaz de compreender e assimilar perfeitamente os fenômenos da vida, aquele provido de sensibilidade ímpar que sentenciará algo parecido com "quando estiver diante dele [do amor], você sentirá".
Em termos grosseiros, tal resposta é o que se denomina "sair pela tangente". É aquela resposta insatisfatória que, de tão oblíqua, o interlocutor sente-se acuado face a convicção com que é proferida, e que, de tão convicta, até uma ameba seria capaz de compreender. Gostaria que assim fosse. Gostaria que o amor fosse tão explícito a ponto de qualquer pessoa conseguir compreendê-lo, porém, não é o que ocorre.
Um primeiro grande problema, que aqui chamarei de "questão fundamental 1", é o fato de amor ser um termo equívoco (vários sentidos), utilizado para expressar inúmeros sentimentos/sensações, a saber: amor materno, amor à camisa, amor cristão, amor-sexo etc.
Como se pode ver, tratam-se de coisas distintas, ligadas tão somente pelo termo amor. Pergunto: existe algo que as unam? existe algo que justifique o emprego do termo amor? Ora, não vejo outra resposta se não uma espécie de "boost superficial" à próxima palavra que já traz em si o sentido necessário. Portanto, o amor nesses casos seria algo subsidiário, dispensável, desnecessário ao entendimento da sentença.
Se não, tomemos os exemplos citados: (i) amor materno: o sentimento em tela é o afeto entre a genitora e sua cria, algo instintivo, inerente aos mamíferos, portanto, para os nosso fins, "instinto"; (ii) amor à camisa: a expressão implica em "responsabilidade". A camisa traz consigo não só o peso da malha e do bordado, mas também da confiança nela depositada pelos torcedores, em que jogar torna-se um problema de muita gente; (iii) amor-cristão: a questão é mais de "respeito" ao próximo. Os mandamentos de Deus são tão complexos que precisou vir seu filho para sintetizá-los em poucas palavras para que os homens entendessem; e (iv) amor-sexo: conjunção carnal diferenciada.
Em suma, amor não diz especificamente nada; é uma palavra que necessita de contexto em todo momento em que é pronunciada, sob pena de adquirir a vagueza que lhe é - mas não deveria ser - natural.
Mas, ainda assim, não é só. Existe ainda uma "questão fundamental 2": o amor, longe de ser uma virtude, é uma máscara de um sentimento egoísta. E para afirmar isso, sirvo-me da hipótese da traição. O traído sempre sentirá indignação, pois julga que o traidor, antes de trair, deveria ter em mente a confiança que o traído nele depositara. Ora, o amor torna-se uma proteção, uma zona de conforto em que o amante sente-se ileso a sofrimento advindo do amado.
Ademais, ainda existe quem defenda ser o amor "dar uma parcela da sua liberdade em prol do outro". Bobinhos... num mundo em que a cadeia alimentar rege a vida; em que a competição é algo inerente ao animal, Milton Friedman bem resumiu numa dessas frases a se pronunciar todos os dias: "there's no [fucking] free lunch" - tradução livre: "não existe [%$#&*] almoço grátis". Ou seja, por trás do ônus, sempre há um bônus. Aquele que ama, busca algo em troca, sempre.
Entendo que essa questão é o ponto mais frágil daqueles que defendem o amor. Conceber-se o amor como sentimento "bom" e confrontá-lo com a sua face egoísta, anula-o completamente.
Existem outras "questões fundamentais", tais como a tautologia na expressão "amor platônico" - haja vista que todo amor é idealizado -, ou a impossibilidade de se medir/constatar o amor, das quais preciso refletir mais e acabar de vez com a idéia superficial desse amor que paira na vida humana como se fosse algo fundamental, natural e inerente a qualquer pessoa. Pelo contrário! O amor é dispensável; é vago; é superficial.
Assim, busquemos os verdadeiros sentimentos de respeito, afeto, amizade, cuidado, caridade, entre outras virtudes, todos eles desprovidos do amor que acaba por suprimir os verdadeiros sentidos dessas belas palavras.
Em termos grosseiros, tal resposta é o que se denomina "sair pela tangente". É aquela resposta insatisfatória que, de tão oblíqua, o interlocutor sente-se acuado face a convicção com que é proferida, e que, de tão convicta, até uma ameba seria capaz de compreender. Gostaria que assim fosse. Gostaria que o amor fosse tão explícito a ponto de qualquer pessoa conseguir compreendê-lo, porém, não é o que ocorre.
Um primeiro grande problema, que aqui chamarei de "questão fundamental 1", é o fato de amor ser um termo equívoco (vários sentidos), utilizado para expressar inúmeros sentimentos/sensações, a saber: amor materno, amor à camisa, amor cristão, amor-sexo etc.
Como se pode ver, tratam-se de coisas distintas, ligadas tão somente pelo termo amor. Pergunto: existe algo que as unam? existe algo que justifique o emprego do termo amor? Ora, não vejo outra resposta se não uma espécie de "boost superficial" à próxima palavra que já traz em si o sentido necessário. Portanto, o amor nesses casos seria algo subsidiário, dispensável, desnecessário ao entendimento da sentença.
Se não, tomemos os exemplos citados: (i) amor materno: o sentimento em tela é o afeto entre a genitora e sua cria, algo instintivo, inerente aos mamíferos, portanto, para os nosso fins, "instinto"; (ii) amor à camisa: a expressão implica em "responsabilidade". A camisa traz consigo não só o peso da malha e do bordado, mas também da confiança nela depositada pelos torcedores, em que jogar torna-se um problema de muita gente; (iii) amor-cristão: a questão é mais de "respeito" ao próximo. Os mandamentos de Deus são tão complexos que precisou vir seu filho para sintetizá-los em poucas palavras para que os homens entendessem; e (iv) amor-sexo: conjunção carnal diferenciada.
Em suma, amor não diz especificamente nada; é uma palavra que necessita de contexto em todo momento em que é pronunciada, sob pena de adquirir a vagueza que lhe é - mas não deveria ser - natural.
Mas, ainda assim, não é só. Existe ainda uma "questão fundamental 2": o amor, longe de ser uma virtude, é uma máscara de um sentimento egoísta. E para afirmar isso, sirvo-me da hipótese da traição. O traído sempre sentirá indignação, pois julga que o traidor, antes de trair, deveria ter em mente a confiança que o traído nele depositara. Ora, o amor torna-se uma proteção, uma zona de conforto em que o amante sente-se ileso a sofrimento advindo do amado.
Ademais, ainda existe quem defenda ser o amor "dar uma parcela da sua liberdade em prol do outro". Bobinhos... num mundo em que a cadeia alimentar rege a vida; em que a competição é algo inerente ao animal, Milton Friedman bem resumiu numa dessas frases a se pronunciar todos os dias: "there's no [fucking] free lunch" - tradução livre: "não existe [%$#&*] almoço grátis". Ou seja, por trás do ônus, sempre há um bônus. Aquele que ama, busca algo em troca, sempre.
Entendo que essa questão é o ponto mais frágil daqueles que defendem o amor. Conceber-se o amor como sentimento "bom" e confrontá-lo com a sua face egoísta, anula-o completamente.
Existem outras "questões fundamentais", tais como a tautologia na expressão "amor platônico" - haja vista que todo amor é idealizado -, ou a impossibilidade de se medir/constatar o amor, das quais preciso refletir mais e acabar de vez com a idéia superficial desse amor que paira na vida humana como se fosse algo fundamental, natural e inerente a qualquer pessoa. Pelo contrário! O amor é dispensável; é vago; é superficial.
Assim, busquemos os verdadeiros sentimentos de respeito, afeto, amizade, cuidado, caridade, entre outras virtudes, todos eles desprovidos do amor que acaba por suprimir os verdadeiros sentidos dessas belas palavras.