Dispenso apresentações por enquanto. Posso?
Explico: estaria traindo minha essência se começasse a escrever explicando quem sou. Mas em outro momento posso conversar melhor sobre minha origem.
Devo, antes de qualquer coisa, agradecer pelo gentil convite dos cavalheiros que me trouxeram até aqui. Que fique registrado! Agora, finalizadas as formalidades, posso começar a tratar do que me atormenta à uma hora dessas...
Passa das 4h e meus hábitos notívagos vão, mais uma vez, sabotar a rotina que eu deveria ter. Já imagino como será minha manhã! Mas era necessário rabiscar algo sobre o que estava pensando então, me rendi para não perder a essência. Peço desculpas desde já, porque minhas palavras foram além e o conteúdo prolongou-se. Perdão! Aí vai para quem também estiver sem sono qualquer noite dessas...
[para ler ouvindo: "Diferente", Gotan Project]
Já pensaram em praticar desapego, de forma consciente?
Nos últimos tempos fui seduzida por essa ideia: praticar o desapego como filosofia de vida.
Nada mais adequado para o momento que vivo e para os objetivos racionais que alimento. No Oriente ele é associado à sabedoria e para os samurais, por exemplo, o “Bushido” servia como base para viver, era um código de conduta. É extremamente interessante, pois envolve traços do Budismo, “filosofia” apaixonante.
Enquanto tratamos de coisas materiais, há alguma simplicidade em aprender a lidar com desapego. Para algumas pessoas entendo que exista uma dificuldade maior, mas confesso que não fui criada para alimentar desejos materiais e sentimento de apego por objetos e valores, então tenho uma perspectiva disso como uma prática diária, hábitos de valorização de essências e não de bens - mas isso é outra discussão.
Quando saímos da esfera material e pensamos em valores mais intangíveis, em sentimentos e em reações espontâneas, aí sim começa a filosofia do desapego de forma mais aprofundada. Como praticar o “não envolver-se”?
Um conceito genial me foi passado nos últimos dias: trata-se do “dar um vazare”.
Gênio quem inventou! Gênio quem sabe aplicar! E é tão genial que você, que consegue pegar gente em balada e nem lembrar o nome, sabe muito bem do que se trata. Além de extremamente inteligente, se pensarmos na filosofia do desapego, o “vazare” é um conceito simples, auto-explicativo praticamente.
Sempre fui notívaga, mas nunca consegui pensar em ficar com várias pessoas em uma noite - quem dirá saber aplicar o vazare da forma como alguns mestres do assunto conseguem aplicar, com a maior naturalidade do universo... Porém, aplico vazare facilmente se me deparo com um “grude”. Aliás, é inevitável. Enjôo da pessoa e quero distância (vazare!). Aplico facilmente também se percebo falta de caráter, injustiça ou algum traço de arrogância.
Mas, e quando você vive algo repentino demais para conseguir desapegar? Aquele cheiro que ficou associado a alguém sem querer (aliás, tópico este para muitos posts!), ou uma cena que fica de presente só para duas pessoas que a presenciaram, uma noite de sono com um abraço inesperadamente bom ou um beijo despretensioso, que acabou gerando saudade...
E aí chegamos a um ponto importante para lidar com desapego, principalmente quando envolve pessoas: saudade. Se gerou saudade, é falha no processo? Se você sentiu falta de uma conversa, por mais breve que seja, ou se bateu aquela ansiedadezinha: falha, perigo?!
Admiti que se começasse a me preocupar com isso, aí sim teria falhas. Viver só o momento pelo momento. Ainda estou começando, não sei se há como aprender de verdade.
E depois de sofrer? Mais fácil viver com desapego?
É... Muitas situações, principalmente as perdas, nos ensinam.
Mas um dos textos mais bonitos que já recebi me ajuda a lembrar do por quê aprender a me desapegar, então compartilho aqui com vocês:
"Você já amou? É horrível, não? Você fica tão vulnerável.
O amor abre o seu peito e abre o seu coração e isso significa que qualquer um pode entrar em você e bagunçar tudo. Você ergue todas essas defesas. Constrói essa armadura inteira, durante anos, para que nada possa lhe causar mal. Aí uma pessoa idiota, igualzinha a qualquer outro idiota, entra em sua vida.
Você dá a essa pessoa um pedaço seu, e ela nem pediu. Um dia, ela faz alguma coisa besta como beijar você ou sorrir, e de repente sua vida não lhe pertence mais. (...)
E então uma simples frase como 'talvez devêssemos ser apenas amigos' se transforma em estilhaços de vidro rasgando seu coração. Isso dói. Não só na sua imaginação ou mente. É uma dor na alma, uma dor no corpo, é uma verdadeira dor-que-entra-em-você-e-o-destroça-por-dentro. Nada deveria ser assim, principalmente o amor".
[Sandman]
Ainda sei pouco sobre desapego, mas sobre amor: sempre vale pela intensidade e a fuga é covardia.