sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Um humilde presentinho...

Não vou escrever nada hoje, apenas queria deixar um texto - que não é meu - mas que me identifico muito, e quero deixar de presente para meus queridos Josias e Sofia

"Pessoas com vidas interessantes não têm frescura. elas trocam de cidade. investem em projetos sem garantia. interessam-se por gente que é o oposto delas. aceitam um convite para fazer o que nunca fizeram. estão dispostas a mudar de cor preferida, de prato predileto. começam do zero inúmeras vezes. não se assustam com a passagem do tempo. fazem loucuras por amor, compram passagens só de ida..."


Desejo tudo de mais bonito pra vocês, que vocês vejam as coisas mais lindas, aprendam coisas novas, ensinem coisas novas também, voltem com lindas histórias, amigos e amores...

Muito, muito carinho para vocês

domingo, 7 de agosto de 2011

O Mendigo

Coloca o saco enorme e pesado no chão.
Começa tirando o colchão, ja com molas quebradas. Tira o cobertor, que também é telhado, deita-se, liga o radinho de pilha que já não sintoniza direito e da uma bela golada da granadinha Pedra 90. Tudo isso bem ali, do lado do posto de esquina, embaixo da loja de assistência técnica de fogões e bem perto do farol daquela grande avenida

E assim começa a vida do mendigo, que acabara de optar por aquele jeito de viver.
Era novo, não sabia o que levar, o que comprar, onde conseguir dinheiro e onde ficar. Ja ouviu muitas sugestões de quem gostava ou não da idéia, mas acabou decidindo por si só. "Vou morar na rua!".

Mas o mendigo era novo, inexperiente. Durou pouco até perceber que incomodaria um bocado onde estava, e percebeu tarde, bem no momento no qual o levaram para um abrigo.
A primeira tentativa foi frustrante, e insuficiente. "Quero a rua denovo!"
Conversou bastante com os outros do abrigo, fez amizades, e ouviu alguns reclamarem e outros elogiarem da vida nas ruas.

A sua vontade de voltar era enorme, e ele não passava vontade.
No mínimo descuido da segurança, apanhou os pertences e pulou a grade do abrigo.

Da segunda vez usou um pouco da inteligência. Instalou-se em um lugar isolado onde conseguiria fila o resto da comida do restaurante e onde não incomodaria ninguem...
Ali ficou bastante tempo, mas não conseguia disfrutar da liberdade e curtição das quais uma situação daquelas permitiria, e a monotonia veio, e cresceu, e cresceu, e cresceu.
A chatisse acumulou e com raiva arrumou briga que resultou na volta para outro abrigo.

Estava quase desistindo da idéia de voltar para as ruas. Aquele outro abrigo era grande, tinha muita gente, a comida era boa e poderia dormir bastante.
Jogou baralho, tomava bebida escondida, não passava frio ou chuva e ainda conseguiu furar com uma outra que já se acostumara no abrigo. Aparentemente não tinha o porquê de sair dali.
Mas, a vida é uma jornada, não um destino. Não conseguiria completar sua jornada ali. E veio uma vontade súbita de querer ir embora.
Depois de 3 tentativas dentre 2 meses onde fora apanhado pelos guardas, conseguiu novamente sair.

O mendigo já estava experiente, por isso alojou-se naquele bairro sem segurança e com muitas almas bondosas que o sustentavam com óbulos.
Alí sim... Bebia quando queria, jogava com outros mendigos, ia nas festas de rua, ouvia o seu radinho e zombava de quem passasse por ali na calçada. A vida que queria.
Mas o mendigo também era gente, e como qualquer outro ser humano, não estava satisfeito. Queria muito mais.
Trocou de bairro, foi para a ala dos traficantes. Lá usou drogas que nunca havia usado, misturava com bebidas e brigava com gente que poderia lhe tirar a vida facilmente. Teve overdoses.
Foi intenso, e foi trágico. À beira da morte causada pelos tóxicos, desnutrição e hipotermia, chegam as viaturas para acabar com a festa do tráfico e levar as vítimas para um lugar seguro, conhecido como abrigo.

Passou maus bocados, e viu que a vida nas ruas pode ser bem perigosa, até fatal.

Parece fácil abominar o tipo de atitude de um cara desses, onde o normal é não morar na rua. Passava frio e chuva às vezes, mas ele não trabalhava, bebia sua birita quando bem quisesse e era invisível à maioria, ou seja, não lhe enchiam o saco. Enfim, ele gostava daquela vida, era tranquila e boa desde que não fosse idiota como da última vez.

Aquele abrigo sim. Era maior ainda que o último. Com mais gente. E mais mendigas.
Todos se gostavam la dentro, e poucos cogitavam sair dalí.
Mas ele não podia, ali, beber sua granadinha. E tinha que trabalhar por sua comida. Estava seguro, mas não estava imune à sensação de liberdade e aos benefícios da sua rua, na qual vivera tanto tempo e ja estava acostumado. Ele nem lembrava mais de como era não viver na rua.

Durante as conversas muitos tentavam o convencer de que tinha que ficar alí, mas é difícil convencer alguem que assume sua personalidade A.
Pensou...
Ponderou as circunstâncias...
Pensou mais.

Não teve jeito, o coração ja estava apertado:
Pulou o muro, e foi embora no meio da madrugada.
Daquela vez ele até já sabia onde moraria, decidido a levar a vidinha do qual estava acostumado.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Conto - Massagem

Fui trabalhar.

Café número um.

Mais uma noite daquela semana que não havia dormido bem.
Como um zumbi no automático, piscando longo aos faróis vermelhos e acordando às buzinas, milagrosamente chego intacto na empresa.

Café número dois.

Mas é Sexta-feira!
Um dia feliz, se o resto da semana não houvesse acabado comigo.Não somei nem 15h de sono. Cada minuto de insônia durava hora de agonia.

Os problemas e prazos atrasados da empresa, dívidas monetárias e a ausência de férias apenas pioravam minha situação, já bem ruim. Nao conseguia me focar. Nem descansar. Nem responder minhas próprias perguntas.
Meu psicológico tinha fome! Fome do meu corpo. Me consumia por dentro, tirava meus músculos e minhas energias positivas. E jogava tudo nas costas, junto com um monte de tranqueira pesada.

Voltemos ao meu dia...

Fui o primeiro a chegar. O AC nos 20°C, minha confortável cadeira e o silêncio do andar tentam me fazer dormir.

Café número três. E eu nem gosto dessa merda, mas preciso por enquanto.Eu nem tenho barba, mas ela cresceu. Cresceu pra mostrar a fadiga, o cansaço, a indiferença, a preguiça, o tanto faz. E pra coçar.

Café cinco.

Almoço. Não havia comido sequer um pão com manteiga de manhã, e mesmo assim ainda não sentia fome. Até o estômago estava estufado das enzimas de preocupação.

Café seis.

Pouparei os eternos minutos de trabalho do dia, todos exaustivamente e monotonicamente iguais. Minutos de trabalho obrigatório, aprazeirado, e provavelmente errado. Foda-se.
Ja perdi a conta do café: meu cigarro temporário que me ajudou a aguentar o dia. Já estava tremendo de overdose.

17h08. Aleluia!Pego meu carro e o maldito som resolve não funcionar. E tive que aguentar todos os bares cheios com músicas altas e pessoas felizes na avenida badalada da sexta, e eu ainda dentro do trânsito.
Infelizmente não vendem café em maço ainda...

Não se espera nada de uma semana dessas além de uma banho e uma cama, quando ao chegar, escuto um frase tão simples quanto significativa:
"_Gostaria de uma massagem, Amor?"

Delicada e intensamente minha alma foi massageada.
Repentina e inexplicavelmente esqueci tudo que me agonizava.

Agora sim, a minha sexta-feira começou!

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Testículo do Villa - Me empresta?

Caro Caio,

Tem algum tempo que não me dedico a esse blog. Fato que foi agravado pelo desequilíbrio que me encontrava – às vezes é melhor não deixar passar nada, não? Dado o tempo que me foi necessário, resolvi voltar à ativa. Peço, então, desculpas ati. Espero que esse texto nos permita dialogar.

Eu tenho o sensato hábito de reler, ou rever – no caso de filmes – coisas das quais de alguma forma me marcaram. E hoje, ao entrar no banho, lembrei-me de um conto que li há alguns anos: O outro, de Borges. O conto discorre sobre um encontro do Borges, já no final de sua vida, com o jovem que se mudou para a Europa. A conveversa que acontece em um banco de jardim, é repleto de referências ao passado de Borges e o futuro do outro. Naturalmente ambos já não se conhecem mais.

Claro, fiz o mesmo reflexo e imaginei eu me encontrando com meu futuro eu. Não gostei do que vi. A busca, no conto, e a minha, tendiam a procurar um eu tão complexo e intragável como minha própria consciência me diz sê-lo. Porém - assim como Borges -, só pude ver, pensar, e entender à partir de um mesmo ponto de partida: o eu habitante. No caso dele: velho, cego. No meu: jovem, burro. Logo não vejo nada, não reconheço nada. Estou fadado, definitivamente, a ser o que só posso ser.

O que me resta? Aguardar... Vivendo, é claro! E quando o dia chegar, espero que meu encontro com o eu jovem seja como reler um antigo conto, no qual se lê um conto totalmente diferente da primeira vez. E espero, que o jovem eu, me pergunte por você, e que eu possa dizer que está com saúde, encarando as mesmas peripécias. Ainda ao meu lado.

Um abraço

Josias