domingo, 17 de julho de 2011

Conto #(sem titulo)

Acordei...

Acordei???

Minha bexiga estava prestes à explodir, por isso corri ao banheiro.
Mas onde ele está?
Milagrosamente, a primeira porta que abro é o banheiro.
Como se apagasse um incêndio no vaso, durante um minuto tento me recompor do sono pesado. Não consigo.

Volto à cena inicial: um belo quarto, com poucas bagunças, frigobar, TV a cabo, ar condicionado e uma bela visão na sacada do 1º andar, onde pessoas felizes aproveitam a piscina, conversam e se bronzeiam ao Sol matinal. Apanho minhas roupas ao lado do colchão inflável, e nada de celular ou dinheiro no bolso.
Espero ainda ter meus rins!
Não sabia onde estava, embora fosse bem agradável. Porém, tenho medo do que possa a vir mais tarde.
Vou embora.

Pego uma água no frigobar e desço ao térreo a caminho da saída do hotel.
Ahh que vontade de pular na piscina.
Deixa pra lá.

Quem tem boca pode ir à Roma, como dizem, mas fica complicado se não soubermos aonde queremos ir.

Naquele lugar desconhecido, subdesenvolvido, de pessoas com sotaque engraçado, mas com belas paisagens naturais, tentei voltar ao lar.

Procurei o caminho certo por muito tempo.
Minha cabeça doia. Minha língua ardia. Meus pés descalços doiam. O Sol ardia.
Superação, pensei...
Andar era lento demais, por isso começei a correr. Rumo a...
Não sabia.


Nesse desespero de voltar ao lar, nas indas e vindas e voltas em círculos, com fome e sede, cansado, assim como um vira-lata sem dono, ainda com cortes no pé, e nenhum meio de comunicar com qualquer ser vivo conhecido, me acalmo e tento aproveitar para conhecer o que tem de melhor nesse lugar místico, longe da civilização, onde tudo acontecia. Afinal, era uma manhã linda! Quente.
As pessoas de meia-idade fazendo cooper e a falta dos baladeiros indicavam que fosse umas 10h, talvez 11h. Ou 12h. Não sei. Tanto faz agora. Ali o tempo não importava!

Passei pelo centro, vi carros rebaixados tocando músicas engraçadas, passei por aquele boteco sujo do qual me lembro vagamente, pelo campo de futebol, pelo mercado referência até que, enfim, bato palmo em frente à casa vermelha sem campanhia, e me abrem a porta com um belo sorriso!

-Vá tomar um banho, Você está péssimo!

Com a casa cheia e (já) acordada, alguns se mostram felizes, outros preocupados, outros riem da minha presença.
Melhor ir tomar banho mesmo.

Eu estava bem cansado. Coca e pão com queijo me acordaram um pouco, mas eu precisava dormir, estava péssimo fisicamente. A língua ainda arde.
Ponho meu pijama, espreguiço-me e vou direto ao meu quarto.

Deitei.
Agora eu estava seguro, abrigado, alimentado e com banho tomado em casa. Podia não ser o hotel 4 estrelas, mas era ali o meu lugar.
Depois de alguns minutos na cama com o olho ainda aberto, pensei se valeria a pena...
...
...
Ta ok!

Levanto, respiro fundo, dou uns leves tapas no rosto para acordar mais, abro a porta, vou de encontro à aglomeração:

-O que houve ontem?

(Muitos risos)

-Meu caro, sente aí que a história é longa...

terça-feira, 12 de julho de 2011

Conto #Não-me-lembro

O reflexo do Sol da manhã me faz acordar do sonho esquisito.

Acordei...

Acordei?

Abro o olho, e apenas isso. Percebo que dormi com um travesseiro diferente daquele das ultimas noites. A cama era diferente também, menor. As paredes não estão mais no mesmo lugar.

Sem movimento bruscos apenas passeio o olho pela cena. Logo menos, sem antes entender qualquer coisa, começa a tocar um heavy metal.
O Sol ainda tímido e já o heavy metal. Alto.
A dor fadigada de meus braços e pernas, estômago estufado, língua dormente, o mal-jeito de dormir no pescoço, "música" alta, e uma leve lembrança do que aconteceu, ainda no quarto, concluíram o cenário do inferno!

Já sei, vou dormir...
...
...

O inferno não me deixou dormir.


Já sei, vou acordar, ainda é um sonho... Eu sei que é.
Eu juro que é!
...
...

Tomara que seja...
...
...

Fudeu!!!

À mínima oportunidade que eu tivesse de sumir, desaparecer, eu o faria.
Pular da janela é arriscado, pois eu nem sabia (e até agora não sei) em qual andar estava.

Bom, em uma situação dessas, como diria o velho ditado: "Se você está no inferno, abrace o capeta!". E foi isso que fiz. Era o mínimo que eu podia fazer.


Os únicos que poderiam me ajudar estavam bem perto, meus amigos! Um estava logo acima, o outro, logo alí atras da parede. Foram poucos os que cumpriram a missão e escaparam à tempo. E eu, com essa mania de conseguir aproveitar o pior que a vida pode lhe oferecer, o fiz bem-feito.

O gosto de linguiça na boca e a barriga esturricada do gás da cevada me fizeram lembrar um pouco do churrasco. Bem pouco.

Saí para a sala, e jurava que nunca havia visto tal cômodo.
E lá estavam eles: meus amigos. Não tive palavras pela satisfação que tive quando os vi, e o sorriso de satisfação deles ao me ver, foi impronunciável. Não vale a pena comentar, Meninão...

A Coca-quente-sem-gás-com-energético-barato, que era a única bebida "potável" não alcoólica no momento, lembra-me o que anestesiou minhas dores e me deu disposição. Não devia ter tomamo aquela merda ontem, quem sabe eu tivesse cansado e ido embora!
Ou não devia ter comido, pra passar mal de vez e assim evitar o que inevitavelmente acaba acontecendo hora e outra. Péssima mania.

Ou deveria ter pulado da janela quando pude...

Eu era o único que queria ir embora. O inferno prendeu meus amigos, mas não a mim.
Descobri também que lá, cada minuto demora meia hora.

Que se dane, pois como um velho amigo me disse, a vida é a arte de simular.
Simulei.
Todos riam de cenas engraçadas e piadas sem graça.
Eu também ria, mesmo que ainda estivesse pensando em como desaparecer dali e não achasse graça delas. Nisso as lembranças vieram. Uma a uma.
Uma de cada vez.
Lentamente.
Agonia.
Desespero.

Conversei, bebi mais um pouco (embora quisesse me embriagar), senti algumas dores a mais em lugares onde eu não havia percebido (o que me preocupou). Mas deixa pra lá.


Depois de horas, no tempo do inferno, finalmente fui libertado.
Entrei no elevador, apertei o botão "Vida real", e voltei pra casa olhando as belas quebras de onda e a brisa morna de uma manhã agradável.


Depois de uns 2 dias de uma das piores ressaca moral que tive, valeu a pena. Eu estava com meus amigos em um lugar onde nunca estivemos, fizemos coisas inéditas (sempre), e guardei mais uma para meu livro do qual pouquissimos tem acesso, e provavelmente será inutilizado e queimado algum dia mais pra frente. Talvez anos mais pra frente.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

O gosto da cerveja

Um dia como outro qualquer, me sento no bar com meus amigos para tomar umas.
Fato corriqueiro, sem muitas novidades, mas sempre muitas surpresas e histórias. Eles pedem aquela, de rótulo chamativo, já conhecida e um pouco mais cara. Eu peço aquela que poucos pedem, geralmente motivo de chacota, barata e com rótulo desgastado. Obviamente fui o motivo da gozação momentânea diária...

Não foi nada que me tenha magoado, deixado triste ou qualquer coisa parecida, mas afirmo: foi errado.
Como qualquer papo de bêbados amigos, discutimos até cansarmos de tentar fazer-nos rir, sem propósito. Mas desta vez, assumo, eles estavam errados.

Como pode alguém falar mal de alguma cerveja sem ao menos conhecê-la, ou ter alguma referência? Precisamos de um test-drive com a noiva antes de casar, certo? Sei que foi uma comparação infeliz, mas enfim...

Hoje já não conseguimos mais contar as diferentes cervejas que se dispõem para nós: escuras e claras, doces e amargas, encorpadas e aguadas... Como sempre somos discriminados por tomar ações diferentes das que o "mundo normal" toma, mas é tudo uma questão de ponto de vista, de valores, de vontades (e principalmente motivos) e talvez curiosidade.

Sempre gostei de cerveja, confesso. Me lembro da primeira que tomei. Da segunda, terceira... Fui fiel à elas, até começar a experimentar novos sabores.
Aqueles que são "padrões", dos rótulos bonitos e silhuetas impecáveis, todos tomam, mas não é aí que vejo graça... Este maravilhosos mundo nos fornece com uma gama incontável de sabores diferentes, por que preciso me prender nos de sempre?

Você gosta do rótulo, do status, do formato ou do sabor da cerveja? Eu gosto do sabor, e nada mais natural do que experimentá-lo para ter sua opinião, sentir seu aroma e o que ela causa em seu corpo... Medo e vergonha impedem que os meros mortais provem dos mais diversos sabores. Assim como cada coisa no mundo existe por algum motivo, as cervejas também... Podem não ter o melhor rótulo nem estar nas propagandas, mas alguma coisa há de bom nisso. O único responsável para perceber o charme, sensação ou vantagem daquela cerveja feia é o usufruinte. E se alguém acha que não há nada de bom nisso, eu digo: a percepção desse alguem é limitada e não consegue perceber a gama que esta simples e indiferente cerveja pode lhe oferecer ou o quanto você pode aproveitar o momento enquanto a toma.

Comecei a beber, e desde então não paro mais. Amo cerveja. E assim vou levar minha vida.
Ser caçoado por qualquer motivo "padrão" ou sem fundamento é totalmente tolerável. O proibido é deixar de conhecer cada grão de cevada que compõe cada gole deste líquido que me tira da depressão, me põe e tira dos eixos, me tira da rotina, me aventura e me propicia os momentos mais proveitosos de minha vida, dos quais sempre compartilho na companhia daqueles mesmos que me caçoam por causa disto...