segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Testículo do Vila - "Pé na estrada"

Devaneio: algo como estar do em um estado de espírito em que se deixa levar por lembranças, sonhos e imagens - Segundo qualquer dicionario de internet.
Domingo, de forma geral, é um dia que retiramos para o "olhar interno". Uma pequena análise do fim de semana somada a ansiedade (ou angústia) da semana que está por vir. Dado esse, para alguns, tenebroso prelúdio de uma rotina medíocre, onde o que se faz é somente sobreviver.
As fugas a isso são claras: a televisão, uma boa literatura, ou um bom som tocando. Mas, para os corajosos, ainda sobra o deixe estar. Aqueles momentos em que nos deixamos ser esmagados pela avalanche de pensamentos e devaneios que nos ocorrem.
O fato é que venho me sentindo inquieto já faz algum tempo. A ideia fixa de fugir, de ir-me a alguma bahia de santo nenhum com uma mochila e um punhado de carisma... Ideia essa que me faz sombra e ocupa parte de meu cotidiano pesado.
Então, em um ato improvável, dediquei-me a explorar essa ideia em seus miasmas enquanto, no escuro da sala, ouvia o excelente albúm The Dark Side of the Moon.
A raiz do problema persistia o mesmo: a falta de uma boa companhia para levar a essa mirabulosa viagem. Os agravantes que tornavam tal proposta facilmente recusável eram muitos: Falta de planejamento, minha imposição de se livrar de vaidades, o perigo do trajeto, e a total ausência de responsabilidades comuns (trabalho, faculdade, e qualquer outro tópico banal).
Porém, foi ao me questionar sobre os mesmos pontos de sempre, que finalmente entendi. Essa viagem, ou role doido, compreende uma necessidade muito profunda e exclusivamente minha. Como chamar alguém para ir onde não se sabe e em uma busca em que não tem finalidade? Como compartilhar a dor e a saudades com alguem que é saudável?
Tudo residia no simples argumento de que é preciso estar doente para entender o que se sofre, para procurar o remédio. Esse é um caminho para quem está morrendo mas ainda tem muito sangue a pulsar, para quem procura antes de mais nada viver fora da estrada que a vida lhe apresenta. Essa é uma trilha solitária em que só é possível caminhar com aqueles que buscam infinitamente estar perdidos.
E agora José? O que me resta? Aceitar a dura realidade de meu sofrer e seguir os passos que se impõe, ou fugir em um ato de coragem e rebeldia? É difícil deixar para trás, é difícil...
"There is a big,
A big hard sun
beating on the big people
in the big hard world"
Eddie Vedder - Hard Sun

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Testículo do Vila - "Algumas considerações"

Queridos amigos,

Houveram alguns acontecimentos que me deixaram um tanto triste ou melancolico nessa semana. São eles: A morte de Gary Moore. e o enc erramento da carreira do Ronaldo como jogador de futebol.

Bom, pode até não parecer lá um dos melhores motivos para merecer um comentário no blog, mas o fato é que ambos foram personalidades que devido ao incrível talento que receberão me deram uma visão linda e poética de duas expressões humanas por excelência: o esporte e a música.

Na verdade, no caso do Ronaldo a questão é o futebol, que para todo bom brasileiro é mais que um esporte. O futebol, e estou sendo clichè, é uma verdadeira paixão nacional, comove uma nação inteira, mobiliza toda a nossa mídia, e desperta intensas sensações naqueles que apreciam uma boa pelada. O Ronaldo, ao lado de Zidane, foram para a minha geração os expoentes máximos do futebol.

Dois gênios da bola, dois jogadores sensacionais, só que o Ronaldo era brasileiro, o que o tornava mais próximo, mais evidente, mais claro, e portanto deixará mais saudades.

Para concluir meu relato, o Ronaldo foi o melhor atacante que já vi jogar, a minha primeira lembrança de sofrer por futebol foi na final de 98 e ele era o responsável, porém nunca vou esquecer 2002. Ronaldo é fenômeno, e a 9 canarinho ainda está com o lugar vago. Sou Ronaldo.

O Outro é Gary Moore, músico, guitarrista excepcional, é fruto da geração do blues inspirado por Eric Clapton e da distorção de Jimmy Hendrix.

Ele morreu dia 6 de fevereiro, sem muito alerde, sem muita festa para comemorar o seu importante legado. É fato que não era dos mais sexy's e sua imagem era pouco comercializada, mas isso não tirava os louros de ser um grande guitarrista de blues, e ter feito músicas impressionantes.

Entre elas, talvez as mais famosas Still Got the Blues; e Parisienne Walkways.

Mas o que me inspirava de fato era sua fama mais antiga, mais próxima ao blues de Eric Clapton, porém mais rápido.

Para mim, e para tantos outros, ele irá deixar saudades, e vos deixo com uma música que faz meu sangue ferver: Oh, Pretty Woman!

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Nobres flertes - Algo sobre a morada da alma

Quanto seu coração inspira sua vida?
Quanto do seu comportamento é moldado por sentimentos?
E quando queremos apenas agir instintivamente? Egoísmo, ousadia, coragem ou simplesmente falta de habilidade para renunciar? São tantos os casos...
Em um dia marcado pelo simbolismo romântico, acho válido partilhar que uma das formas mais lindas de amor, segundo minha perspectiva, é aquela que vai além dos instintos e se mistura um pouco à racionalidade, à consciência dos limites (afinal, se não sei onde os limites estão, como posso ultrapassa-los?)

Amar não é um verbo que mereça definições, mas é, definitivamente, uma oferta múltipla de possíveis atitudes.
Felicitações aos que estão entregues! Merecem parabéns por assumirem para vocês mesmos o que sentem, sem medo.


[e já que é para manter a tradição, que hoje seja uma música que me inspira a ter coragem toda vez que eu tenho medo de me envolver - (...)"anytime you want fly"]

domingo, 13 de fevereiro de 2011

O próprio – Tédio

Em primeiro lugar gostaria de dar boas vindas às novas colunistas, vocês deram uma boa movimentada neste blog, tanto que até eu estou escrevendo. E que queria dizer o ano de 2011 tem sido bastante divertido, e vocês são parte fundamental dessa diversão.

Comecemos então com uma música que serviu de inspiração: I’m bored – Iggy Pop

Um sábado a noite que prometia encontro com antigos amigos e muita diversão, se tornou um noite de tédio em casa, e o que há de melhor para fazer quando se está entediado do que pensar o tédio, tema recorrente nas minhas reflexões das últimas semanas, graças a ter conhecido uma pessoa bastante entediada, e como conheço perfeitamente a sensação, escreverei um pouco sobre o tema inspirado no livro “Filosofia do Tédio – Lars Svendsen”.

O autor do livro um filósofo norueguês resolveu se debruçar sobre este tema que afeta uma porcentagem muito considerável da população, apesar de ser um fenômeno de difícil diagnóstico de forma objetiva.

O tédio sempre contém um elemento crítico, porque expressa a ideia de que dada situação ou a existência como um todo são profundamente insatisfatórios. Na corte francesa, o tédio era privilégio exclusivo do monarca, pois, se alguma outra pessoa ali o expressasse, isso provavelmente seria interpretado de um única maneira: a de que o monarca a entediava. O que provavelmente acabaria com cabeças rolando.

Além disso, o tédio está associado a uma maneira de passar o tempo, em que o tempo, em vez de ser um horizonte de oportunidades, é algo que precisa ser consumido. As pessoas que vêem televisão quatro horas por dia não se sentem nem se confessam entediadas, mas por que outra razão despenderiam dessa maneira 25% das horas que passam acordadas? O lazer, naturalmente, apresenta-se com uma explicação: dispomos de muito tempo de sobra, que tem de ser consumido de alguma maneira – e poucos tipos de aparelho destroem o tempo com mais eficiência que uma televisão. Em última analise, dificilmente haverá qualquer outra razão para se assistir à televisão durante muitas horas, que se livrar de um tempo supérfluo ou desagradável.

Fernando Pessoa aborda o tema do tédio, sob o heterônimo de Bernardo Soares no Livro do Desassossego, com a maestria que lhe é peculiar, e escreve:

“Dizem que o tédio é uma doença dos inertes, ou que ataca só os que nada têm que fazer. Essa moléstia da alma é, porém, mais sutil: ataca os que têm disposição para ela, e poupa menos os que trabalham ou fingem que trabalham (o que para o caso é o mesmo) que os inertes deveras.

Nada há pior que o contraste entre o esplendor natural da vida interna, com as suas Índias naturais e os seus países incógnitos, e a sordidez, ainda que em verdade não seja sórdida, de quotidianidade da vida. O tédio pesa mais quando não tem a desculpa da inércia. O tédio dos grandes esforçados é o pior de todos.

Não é o tédio a doença do aborrecimento de nada ter que fazer, mas a doença maior de se sentir que não vale a pena fazer nada. E, sendo assim, quanto mais há que fazer, mais tédio há que sentir.

Quantas vezes ergo o livro onde estou escrevendo, e que trabalho, a cabeça vazia de todo o mundo! Mais me custara estar inerte, sem fazer nada, sem ter que fazer nada, porque o tédio, ainda que real, ao menos o gozaria. No meu tédio presente não há repouso, nem nobreza nem bem-estar: há um apagamento enorme de todos os gestos feitos, não um cansaço virtual dos gestos por não fazer.”

O tempo é normalmente transparente – não o percebemos em absoluto – e não aparece como uma coisa. Mas em nossa confrontação com o nada no tédio, em que o tempo não está cheio de nada que possa ocupar nossa atenção, temos, enfim, consciência dele. Se fossemos imortais, a existência seria desprovida de significado. O tédio é entediante porque parece infinito; no entanto, trata-se de uma infinidade com que nos deparamos nesta vida, e é, portanto, capaz de nos mostrar nossa própria finitude. As escolhas são importantes porque não podemos fazer um número infinito delas. Quanto mais escolhas e possibilidades houver, menos importância cada uma delas terá. Cercado por um seleção infinita de objetos “interessantes” que podem ser escolhidos de modo a serem descartados, nada terá valor algum. Por essa razão, a imortalidade, que permitiria um número infinito de escolhas, teria sido imensamente entediante.

A solução mais difundida de tentar “escapar” do tédio é através da eterna busca pela novidade. Mas o novo sempre se transforma rapidamente em rotina, e, então também o novo se entedia, pois é sempre o mesmo, entedia quando tudo é intoleravelmente idêntico, porque o que está na moda sempre se revela como a “a mesma velha coisa em uma carroça nova em folha (Same old thing in brand new drag)”, como disse David Bowie em “Teenage Wildlife”.

Não há solução mágica para o tédio. O problema reside, antes de mais nada, em aceitar que tudo que é dado são pequenos momentos (no amor, na arte, na embriaguez), e que a vida oferece muito tédio entre estes. Pois a vida não consiste em momentos, mas em tempo. É preciso aceitar o tédio como um dado incontornável, como a própria gravidade da vida. Não é uma solução grandiosa – mas não há solução para o tédio. É preciso aceitar que a vida em certa medida é entediante, mas ao mesmo tempo perceber que isso não a torna insuportável. O que não resolve coisa alguma, é claro, mas muda a natureza do problema.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Testículo do Vila - "Quando emprestei meus olhos"

Para ouvir enquanto lê: Samba de Benção

Esses dias recebi um daqueles convites irrecusáveis, a lindissima Sofia pediu-me para que lhe apresentasse São Paulo, mas de uma forma bem brasileira. Apesar de ser carioca, topei!

Pensei um tanto. Até tentei virar paulistano para planejar melhor o que poderíamos fazer, o que poderia lhe mostrar. Cheguei a conclusão que a levaria aos pontos tradicionais da cidade, obviamente comecei errando...

Marquei para às nove horas na paulista, porém esqueci de avisar que sou um ser de hábitos quase que exclusivamente noturnos, e que por isso iria me atrasar. Cheguei a sair sem tomar café - que no meu caso seria um suco de laranja com qualquer outra coisa.

Qual não foi minha surpresa, que no caminho Sofia me liga e diz que se atrasará, da uma desculpa qualquer e diz que é notívaga e eu estava forçando... Me fiz de coitado.

Oi pra cá, você está linda pra lá, lindo dia, seguimos andando. "A paulista é um lugar interessante para se andar não?" "Não sei, acho que tem muitos prédios", acho que as coisas são assim mesmo, a paulista desperta mais interesse em quem está acostumado a ve-la como paulistano!

Decido que preciso comer algo, as dores de cabeça, provenientes das contínuas cervejas na noite anterior andam me desgastando. Convido-a para ir a uma boa padoca, ali na região. Sentamos, comemos, ela pouco, eu muito, sem cerimônias. Explico o valor de uma boa padoca para qualquer paulistano, ela me deixa e eu continuo, digo que mais que isso, a padaria é um desenvolvimento econômico sustentado pela necessidade e paixão do paulistano por uma boa padaria. Ela ri, e fingi concordar enquanto come sua empadinha com suco de lichia (vai entender?!). Eu em vão tento explicar o porquê do pão na chapa e do café com leite. Ela, abre um lindo sorriso - que me lembra Neruda* - e pergunta: "E agora? Estou ansiosa!", eu paro, consulto meus planos mentais e arrisco: "MASP!"

A caminhada é tranquila, falamos de arte, de expressão de sentimentos. Eu concordo mais do que falo, é um terreno confuso. Ela me pergunta sobre Di Cavalcanti, eu respondo falando que gostava da amizade dele com Vinícius e de sua entrevista ao pasquim... A conversa se perde. Chegamos!

A exposição era sobre um grupo de artistas alemães, que minha turva ignorância nada sabe dizer, dou graças quando minha jovem acompanhante prefere ouvir um pequeno grupo de jazz que se apresentava ali mesmo no vão, e deixamos para lá o museu. De lá vamos para a gazeta, ver qual filme é possível na reserva, e no caminho conversamos sobre a musica de rua - que na verdade é um doce disfarce para o fato dela prefirir ir ao museu sozinha, longe de meus comentários e opiniões escrachadas.

Decidimos por Vincere! Segundo ela um trama de uma mulher forte, viva e audaz em sua luta; Italianíssima, tal qual ela me confessa ser também, pelo menos em sangue, enquanto percorre o salão olhando um a um os cartazes de cinema, e diz que é apaixonada por eles.

Ali, sentados no café, alguns devaneios acontecem, e eu percebo que não lhe apresentei nada tipicamente brasileiro. Pecisamos corrigir isso no almoço. Da-se uma discussão: "Onde posso te levar?" ela me diz que a minha imaginação é o limite. Tento uma churrascaria, recusa; tento uma macarronada no arouche, nova recusa; lembro que é sábado e ofereço uma fejuca no bar brahma, e incrível, nem isso! Ela me diz que quer algo a mais, uma coisa mais específica, não tão obvia. Fala sobre amor e sobre a relação entre um bolinho de peixe que ela só comia com o pai quando ele a levava ao porto. Entendi o recado...

Sem mais, levanto e peço que ela me siga, vou-lhe apresentar algo que é meu, tão somente meu. Sigo com ela para a consolação e paramos no sujinho. Ela me pergunta por que estamos ali, e eu explico que no rio comemos feijão preto, em São Paulo, por ironia do destino, se come feijão carioca,e que aquele era o melhor feijão que havia comido.

Almoço tranquilo, a Sofia me conta varias coisas divertidas, desde churrasco de canguru até a paixão dela pelo mar, pelo surf. Eu me identifico e comento sobre outras banalidades.

Demoramos a sair do lugar, no caminho de volta faço um pequeno desvio para lhe mostrar um prédio que gosto e um ou outro detalhe sobre a região, momento em que ela tira algumas fotos e pede para que eu faça uma ou outra careta. Cansada, pedimos um taxi. Conto que em São Paulo os taxistas são mais honestos e que no Rio as coisas não são bem assim... Ela diz que odeia desonestidade - quase cometo a bobagem absurda de dizer que isso é um traço cultural no país.

Vincere! O filminho mais genioso, mas é chato. A mulher é de fato forte, vibrante, batalhadora. Mas está na época errada. Digo isso, ela me diz que esse é o traço marcante do filme, sua conduta moral, sua recusa a aceitar o macho alfa dominante; eu acho tudo muito chato, mas ok.

A noite vai começar, mas ainda há algum tempo até lá. Ela precisa ir pra casa tomar um banho, mais tarde iremos ouvir alguma música, eu prometi. Tennho tempo para escolher algo... deixo os pensamentos ao sabor do vento.

Como já estava na paulista, decidi por visitar a livraria cultura, ver algum livro interessante, algo que me inspire enquanto tenho uma reflexão sobre o dia que passou. Acho por fim que não dei a Sofia o que ela me pediu, um dia tipicamente brasileiro...

Não tem importância, o dia foi alegre e a alegria é a melhor coisa que existe.

De resto, a Sofia terá que descobrir a sua própria brasilidade. O que fiz foi apenas tentar lhe mostrar a minha, os meus referenciais brasileiros dentro de uma metrópole tão vasta! A paulicéia é encardida pela fumaça, mas também por pessoas como eu, e como a Sofia, cada um ao seu caso, com a sua marca específica.

Na verdade eu tentei lhe dar meu olhar sobre coisas muito particulares, sobre situações e afetos, sobre sensações. Só agora percebi meu erro: Ao tentar dar-lhe minha visão sobre tudo que nos rodeava, falava mais de mim do que da cidade, mais do que é essencial a minha existência. Partilhei com ela um pouco de tudo que sou, tão brasileiro quanto posso ser.

O fato é que já não tenho mais meus olhos como outrora, ela me roubou isso e eu consenti. Dei a ela o que sou e já não o sou, meus olhares mudaram junto com o que ela interpretou de meus olhos, quando vir a paulista novamente vou perceber mais prédios, pois ela assim notou. Assim a vida se dá com todos, presumo, uns menos outros mais.

Vamos ver o que nos resta então. Acho que a noite promete um samba, quiçá um Rock 'n Roll! O fato é que ela irá mudar isso também, mas estou ansioso, a aguardo me trazendo mais um pouco de alegria e quem sabe um samba no pé?!

*"Quítame el pan, si quieres,

quítame el aire, pero

no me quites tu risa."

[Tu risa, Neruda]

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Nobres flertes - De perto e tão longe...

... mas nada distante.

[para ler ouvindo: “Far Far”, da magnífica Yael Naim]


Não vamos falar de covardia, nem da perspectiva negativa que a ideia da fuga costuma trazer (como quando se pensa em uma situação que te encabulou e por isso você foge da lembrança). Evite por alguns segundos pensar em quanto fugimos de sentimentos, ou da maturidade que a vida nos obriga a ter quando temos que ser responsáveis. Esqueça um pouco tudo de negativo que cerca o conceito de "fuga", esqueça também a ideia única de fugir de um espaço físico para outro.


Momentos únicos podem estar em uma fuga que você consegue realizar dentro da sua própria mente. Uma escapulida da realidade, sem dar satisfação para o lado racional que te cerca no cotidiano. Criar, não aproveitar ou transformar. Começar criando espaço para pensar de forma independente, suspiros longe de tudo, ainda que isso aconteça em algum lugar onde você está cercado de gente. Fuja lá para dentro de vez em quando!

Algumas pessoas encaram fugas somente pelo viés negativo, mas não deveriam. Aliás, detesto limitar as coisas. E aí está mais um motivo para achar o lado bom de ficar só com você de vez em quando: você muda seu olhar, viciado em tudo que é oferecido do “lado de fora”, tudo que chega pronto e meio limitado. Sozinho dá para exercitar uma visão que vem da outra ponta [a sua].

A genialidade em diversos casos se faz presente em momentos, almas, vidas, mentes que souberam fugir da realidade. E é esse o brilhantismo delas: a inteligência ao saber sair da superfície do convício, abusar do próprio universo e entender detalhes de forma única.

Só é preciso algum cuidado para praticar mergulho, porque uma hora o oxigênio acaba e nem sempre conseguimos enxergar a superfície de novo (e cá pra nós, isolamento contínuo é insensatez, porque há vantagens deliciosas para serem desfrutadas ao lado de outras pessoas, ao lado de alguém especial, que te faz querer conversar e compartilhar...)

Gozadas do Rei - O Sol

Tive que conversar muito, entrei em caminhos errados, passei por crises, suei, cai em armadilhas e sofri escoriações até conseguir sair do labirinto onde eu estava.

Foi tudo novo. O lado de fora era tão esquisito, tão diferente... Não soube como me comportar e nem para onde ir. Já não pisava fora dele há algum tempo. A grama era alta, sentia a garoa. Dei um volta em torno de mim e me deparo com um infindável terreno quase inexplorado.

Eu quis subir nas árvores, acampar à noite, curtir tempestades e caçar animais. Queria tudo. Fui atrás. Corri... Não achei árvore, nem choveu, e nada de animais para caçar. Como tamanha terra não pode me servir?

Antes de escurecer, o céu abriu. O céu azul, límpido, deu espaço ao Sol. Irradiação precisa e ao mesmo tempo abrangente. Não tinha árvore e nem lugar para me esconder. Mas o Sol não queimava, simplesmente ardia... Por dentro. Sensação de febre revigorante.

A grama era verde e baixinha.
Não choveu, mas relaxei um pouco do ardor em um banho, onde a leve turbulência das águas do rio ali perto hidromassageavam meu corpo nu.
Também não haviam animais para caçar, mas eu não passei fome e nem deixei de me divertir.

O Sol não se pôs, e quando percebo, ja havia entrado em outra lugar, ainda não conhecido, diferente também. Olho para trás e vejo novamente o inesgotável terreno que tudo tem, logo à saída do labirinto.

A escolha apenas parece difícil. Eu deito e começo a pensar.
...

"Quer saber? Ficarei por aqui mesmo..."

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Testículo do Vila - "Prévia do que esta por vir..."

Queridos amigos, leitores e colegas...

Hoje não é um dia como outro qualquer. Hoje celebro a vida junto a alguns queridos amigos e tantos outros conhecidos, uma festa que a única intenção, a meu ver, é unir uma geração de pessoas que compartilham uma certa forma de vida, e simpatia por um lugar especial.

O fato é que isso tudo não importa tanto quanto aquilo que me motiva a fazer parte dessa celebração: o convívio com pessoas muito queridas que não quero deixar de tê-las por perto.

Dessa forma, digo que o texto que se segue não é mera empolgação da expectativa de uma festa de arromba, mas sim um prelúdio a um texto antigo - que por motivos mil, ainda não saiu de minha "cachola" confusa.

Essa prévia, que é mais um tira-gosto imperfeito e totalmente restrito a pequenos fatos, tem a finalidade de exaltar 4 queridas, e três grandes amigos que formei ao longo de 4 anos. Se são tão poucos, os aqui descritos, é por falta de urgência em dizer o que digo.

Começarei pelas damas:

A primeira me odiava desde o primeiro momento em que a conheci, ficamos amigos sei lá porquê. A vida tem dessas coisas né?! Mas, apesar do pequeno tamanho tem um coração feito de puro amor e lealdade. Sofri desesperadamente durante muito tempo por não a ter por perto, mas quero que ela saiba que nunca, em nenhum momento, deixei de a querer voltar a conviver como antes. Fato absurdo, uma vez que hoje nossa relação é melhor que nunca, e talvez tudo se passou exatamente como deveria...
Ela é especial pelo seu carinho, pela sua dedicação aos detalhes - tal qual sua cultura nipônica sugere - mas sobre tudo pelo fato de amar muito e com sinceridade o tempo todo.

A segunda surgiu em minha vida em um momento de dor, devido ao meu único e egoista interesse de conforto diante de uma adversidade que me rasgava a alma e me queimava o corpo. Sua empatia me salvou, virtude essa que ela esbanja, e que tornou possível nossa amizade. Ela me confortou sem querer nada em troca, com uma simplicidade e uma atenção preciosa, conquistando a minha mais profunda admiração. O resto se apresentou aos poucos, sua simpatia, seu sorriso fácil, seus pudores, mas principalmente sua resignação à viver uma vida de paixão, em tudo!

A terceira eu nem lembro como foi o começo, sei que foi algo mágico e completamente alheio as minhas expectativas, simples tal qual a vida deve ser: ela chegou, disse oi, e ficou. Não saiu mais da minha vida. Duas coisas a princípio me impressionaram, sua fortaleza moral - aqui faço uma ressalva, é indestrutível -, e o fato de ser a pessoa mais cheirosa que eu conheço. Coisas fascinantes é claro, porém não fogem de tantas outras pessoas com características parecidas. O que a tornou especial são pequenos detalhes, esses sim especiais, cativantes, e que a deixam com o brilho que merece, detalhes e atitudes que não são esperados, simplesmente vem a tona com naturalidade.

A quarta foi esquisito, nossa amizade demorou a aparecer, surgiu quase um ano após nos conhecermos, porém ela se provou extraordinária em apenas um dia. Lhe bastou um oi, e uma conversa de umas 4 horas seguidas para me deixar encantado, e fazer apagar quase um ano de completo desconhecimento. Após isso eu a descobri uma pessoa genial, linda, e muito frágil em alguns sentidos, o que me levava ao constante endagamento: como uma pessoa tão maravilhosa pode ser assim tão insegura? Mas ela é assim, complicada e perfeitinha tal qual uma musica boba da rádio que faz a gente cantarolar sem querer... O fato que ela é especial por motivos diversos e que eu não consigo dizer ao certo.

O primeiro é o mais polêmico, desgarrado do mundo em que vive, tem tendência a loucura, ou pelo menos quer ser excêntrico. Porém sem dúvida nenhuma talentoso, criativo, e alheio a principios detestáveis em uma sociedade quase padrão. Controverso a muitas de minhas ideias, nós nos aproximamos em longas discussões, mas o que mais adimiro em seu caráter é sua lealdade e fidelidade, uma amizade para ele é uma amizade como eu gosto de entender, o saúdo pelos motivos certos.

O segundo é cretino, fato! Mas é meu amigo. Não sabe o que quer, e tem um modo de pensar muito restrito a associações que não gosto, e em alguns casos não suporto. Mas, é amigo no que se pode entender disso. É divertido com ele e a partir dele. Te deixa na mão de vez em quando, mas receio dizer que ele tem um coração enorme, puro e sincero. E faz questão de demonstrar isso, coisa que admiro em homens.

O terceiro é um porcariazinho de um metro e meio. Hehe. Na verdade sempre foi maduro. Não sabe o que quer e isso não o incomoda. Não quer coisas que todos queremos e isso não o incomoda. O fato é que ele sabe viver, sabe sentir, sabe beber daquilo que a vida oferece de mais prazeroso, e incrivelmente, sem para isso machucar ninguém. O que mais admiro nele é saber que sua alma é boa por inteiro, e que ele é realmente preocupado em sempre fazer o melhor pro próximo. Ele não sabe, mas no fundo ele é um grande exemplo cristão.

Aqui eu termino meu pequeno relato para complementar essa noite comemorativa, dizendo que espero mais, muito mais de todos que acima escrevi. Quero ter cada um de vocês sempre por perto, sempre em meus momentos em que desejo compartilhar alegria.

Quanto ao texto antigo, esse ainda está de pé, prometo fazê-lo e postá-lo em meu próximo dia livre. Vocês, meninas, merecem algo mais que essas meias e apressadas palavras. Vocês merecem o que eu posso fazer de melhor, motivo esse que me impediu de terminá-lo a tempo.

De resto deixo um grande abraço, e a certeza de que esses tempos deixarão saudades, mas tenho convicção que ha ainda muito antes de a cortina se fechar.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Carícias da Mika – O apego pós-desapego

Vou aproveitar o assunto atual do blog, o DESAPEGO, para também deixar as minhas impressões sobre o tema.

Após um relacionamento desastroso, para não dizer coisa pior, decidi que seria por um bom tempo adepta ao vazare e assim continuei a minha vida, levando essa filosofia muito bem – ok, minto se não assumir que várias vezes tive uma recaída e quis namorar de novo, mas nada que não tenha durado apenas uma TPM ou um filme meloso.

Num belo dia de outono coube a mim, acompanhar uma amiga numa festa na casa de seu atual “peguete”. Ao entrar na festa, deparei-me com um belo sorriso e no mesmo instante meu coração bateu mais forte. Senti o alerta de perigo gritar na minha cabeça e para a minha sorte minha amiga me disse: “ele tem namorada”. “Ufa, não foi dessa vez” logo pensei. Ledo engano, a vida tem esse prazer de nos surpreender.

Meses depois, numa conversa casual com um amigo em comum, revelei o quanto tinha me interessado pelo sujeito. Disse sem nenhuma intenção de causar um rompimento no namoro ou para me atirar em uma aventura e virar a outra.

Passado uns dias, como uma avalanche que nos pega desprevenidos, nos encontramos num jantar, começamos a trocar algumas palavras no MSN, frequentamos festinhas regadas a poker e cerveja e quando vimos o cupido já havia aprontado e peremptoriamente acertado.

É, desisti do desapego e me agarrei à oportunidade de sofrer de amor.

[Se esse post fosse uma música, ela seria mais ou menos assim: “Último Romance” dos Los Hermanos, composição de Rodrigo Amarante.

EU ENCONTREI QUANDO NÃO QUIS
MAIS PROCURAR O MEU AMOR
E quanto levou foi pr'eu merecer
ANTES UM MÊS e eu já não sei
E até quem me vê lendo o jornal
Na fila do pão, sabe que EU TE ENCONTREI
E ninguém dirá que é tarde demais
Que é tão diferente assim
DO NOSSO AMOR A GENTE É QUE SABE, pequena
Ah vai!
Me diz o que é o sufoco que eu te mostro alguém
Afim de te acompanhar
E se o caso for de ir à praia eu levo essa casa numa sacola
EU ENCONTREI E QUIS DUVIDAR
Tanto clichê deve não ser
VOCÊ ME FALOU PR'EU NÃO ME PREOCUPAR
Ter fé e ver coragem no amor
E só de te ver eu penso em trocar
A minha TV num jeito de te levar
A qualquer lugar que você queira
E ir onde o vento for
Que pra nós dois
Sair de casa já é se aventurar
Ah vai, me diz o que é o sossego
Que eu te mostro alguém afim de te acompanhar
E se o tempo for te levar
Eu sigo essa hora e pego carona pra te acompanhar”
]


Mika Yin

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Gozadas do Rei - Desdesapego

Já deu para perceber os novos talentos neste ilustre Diário, que já não conta com a presença dos antigos contribuintes queridos. Bem-vindas!

Era para ser um comentário, mas pelo tamanho e oportunidade de postar, aí está.


Tratarei do assunto como de uma maneira mais abrangente, aplicável até em outros casos, quem sabe.

A arte do desapego, do "foda-se", do galinha, do espertão, do nerd, ou qualquer outra. Temos milhares de artes, ou melhor dizendo, posturas que devemos tomar a qualquer instante todos os dias. Devemos, e não podemos, porque senão viveremos como uma paisagem sem graça.

A pergunta agora é: porque temos conflitos tão grandes com posturas opostas, como a do "foda-se" e do atencioso/preocupado, do galinha e fiel amante ou do apego e desapego?
Se você for mais um brasileiro como outro qualquer, e sei que não é o caso do leitor, escolherá o que mais lhe for conveniente. Mas se você não for brasileiro sabe que isso não vai dar certo, porque mais cedo ou tarde se sentirá mal, triste, talvez até sem conteúdo.

Mais específico agora, por que "sem conteúdo"?
Acredito que em alguma parte de nossas vidas formamos nossa personalidade, formada por todos os hábitos adquiridos, explicados por tudo que se passa na cabeça, exclusivo de cada um, ou seja, um conteúdo. O problema é conseguir interpretar o que se passa e armazena nessas milhões de sinapses instantâneas da massa cinzenta.

Talvez a falta de conteúdo, infelicidade ou tristeza aconteça quando tentamos fugir do nosso conteúdo real, o que nos deixa satisfeitos quando saciamos e vice-versa. Explicarei.
Agora saindo do específico.

Seu cérebro não consegue falar para você o que precisa ou o que gosta exatamente. Numa situação destas, resta a opção de tentar. Daí o termo posturas.
Enquanto não sabemos o que realmente nos sacia ou deixa tranquilo, tentamos diversas posturas, várias vezes, até tentar achar nosso verdadeiro conteúdo. Nada fácil.

Tem um termo aí chamado ataraxia, mas não acredito que ele resolva, porque na minha opinião, livrar-me de paixões e desejos superficiais não me deixa tranquilo.

Podemos adquirir qualquer hábito (ou postura) que exista através de um processo de treinamento pessoal, para uns mais facilmente do que para outros, até atingir o desenvolvimento pleno: capaz e inconsciente. Mas será que é essa a postura, em treinamento ou desenvolvida, que realmente queremos?

Eu, por exemplo, já tive vários conflitos entre posturas, por exemplo, entre preocupado e "foda-se", variei do nível 1 ao 10. Espero que agora esteja convergindo.

A idéia de postura fica meio temporária. Não vou mudar de palavra porque acredito que as posturas, ou o que o "cérebro gosta" seja função do tempo e do que se vive. Quem já falou "eu nunca ..." ou "Eu odeio ..." e acabou entrando em contradição mais cedo ou mais tarde (dias ou anos) sabe bem o que estou falando. Pouparei exemplos porque não conheço alguem que não o tenha feito.

Se devemos nos comportar de acordo com nosso conteúdo verdadeiro, "conteúdo feliz", e ele pode ser modificado em função do tempo e de como vivo, como convergir a algo estável e feliz? Ou seja, é um conjunto de incontáveis iterações com incontáveis parâmetros inconscientes e conscientes à toda hora com os quais temos que lidar.

Como lidar com isso mais facilmente? Bom, se eu soubesse da resposta este não seria um diário...



Agora uma imagem para não perder o costume...