sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Pentelhos do Rei: "Stare down techniqué"

Outro dia desses, abismado com a eficácia de um colega francês na conquista das mulheres, perguntei qual era a tática dele. Após dar aquela risadinha de quem já riu dessa pergunta muitas vezes, ele acabou me explicando a "stare down techniqué".

Essa “técnica” consiste em fitar uma mulher até o ponto em que ela desvie o olhar. É, ainda, continuar olhando com o fim de surpreendê-la quando ela voltar a fitá-lo. Mas não é só. Continuou o francês: "é ainda manter-se firme e sério até que ela ceda e lhe conceda uma risada". Essa risada gera outra risada, outras fitadas, vai aguçando a imaginação e despertando curiosidade. Depois disso, a conversa é uma leve consequência.

O que me surpreendeu nessa história foi a sua simplicidade. Num primeiro momento, inclusive discutimos isso, parece algo fácil de ser posto em prática. Seria só olhar, olhar, novamente olhar e chegar junto. Porém, acabei percebendo que por em prática a coisa é algo bem mais complicado.

Isso porque não é simplesmente olhar insistentemente. É mais que isso. É olhar com confiança, o que é muito difícil adquirir num primeiro momento por alguém.

Em geral, caso o álcool - ou qualquer outro entorpecente - não tome conta das almas, a conquista é uma crescente em que os sujeitos vão se envolvendo paulatinamente. Daí a confiança em arriscar uma aproximação cada vez maior.

Aqui, em contrapartida, a confiança deve se apresentar antes da conversa, só pelo contato dos olhares. Daí advém a dificuldade. O que a mulher vai achar disso? “Esse cara é um maníaco/louco/estuprador”, “Que coisa estranha...” ou “Que pretensioso... se acha ao ponto de querer se aproximar desse jeito”. Aí o cara se passa por um ridículo, por um daqueles caras bem personificados pelo personagem do “homem berinjela”. Esse não é o objetivo.

Por outro lado, ela pode achar interessante, pode de cara já rir, pode também assim ficar por horas e horas, o que só deixa a coisa mais interessante. É uma aposta baseada na confiança. Um jogo interessante de se jogar.

Enfim, na "stare down techniqué" o que vai demonstrar a intenção do homem que assim se comunica é a confiança que se extrai do seu olhar. Filosófico, romântico, curioso... dá pra ver porque é uma técnica para poucos.

Ao ouvir isso, o francês deu mais uma daquelas risadinhas.

sábado, 19 de novembro de 2011

O Meloso, e o Até logo...

Boa noite!

Começarei com o Até logo...
O falo por mim, e pelos meus irmãos também.
As responsabilidades crescem, as prioridades mudam, o tempo fica mais valioso, e as próprias adaptações do mundo moderno requerem mudanças, e não há evolução sem mudança. As coisas precisam renovar, adquirir outras formas, mais adaptáveis a nós, para manter o dinamismo e empolgação de qualquer negócio. Daí surgiu a necessidade do Até logo.
A experiência foi excelente, aprendeu-se muito com ela, compartilhou-se muito com ela, crescemos!
E ainda temos muito a compartilhar. Nascer denovo, pra crescer mais, melhor e mais forte. Ir até onde não fomos e sempre quisemos.
Até mais amigos.
Vou-me daqui, e deixo um singelo e rápido conto como recordação.

O Meloso

O garoto tinha medo das garotas...
Midas foi burro quando escolheu o "dom" de que qualquer coisa tocada por ele se transformaria em ouro. Mas o garoto nunca teve opção.
Ele não era bonito, não era rico, não tinha carro, não era famoso, mas tinha o toque do mel. Poder que poderia causar fortes estragos nas mãos de muitos outros garotos, mas este não. Tinha o coração bom, e alma pura. Sempre disposto para entregar seu coração e confiar sua alma, mesmo correndo o risco de um rato confiando em um gato. E aí que estava o problema.
Suas relações com as meninas sempre foram 8 ou 80. É muito difícil ter que escolher alguem sem antes ter o contato físico necessário para que ela estivesse disposta a mostrar pra você com quem realmente está lidando. E foi assim... O primeiro beijo, primeira transa, primeira namorada... Experiências frustrantes de simples toques errados. Aquele toque arriscado com esperança de que algo melhor estaria por vir, e que não vinha nunca. A simples toque que fazia as garotas caírem incondicionalmente aos seus pés,e  fazer o que fosse necessário para deter o amor deste garoto. E com toda sua bondade interior, ele fazia o mesmo. Sempre foi apaixonada, e por isso e por seu toque, o chamavam de Meloso.
As garotas que eram tocadas pelo garoto, ou fugiam para não se entregarem completamente, ou de fato se entregavam completamente.
Mas Meloso era otimista, e por isso via o lado bom também: era aquele que tirava virgindades (também anais) com tempo e facilidade recorde, dificilmente recebia um "não" em festinhas, podia manipular garotas com garotas segundo as regras que criava para o próprio jogo, entre outras facilidades cuja criatividade era o limite.
Lógico que tinha que arcar com as consequências de tudo isso, e frequentemente as garotas mais desejadas desapareciam com aquele olhar de "te quero", ou então entregavam-se completamente por garotas erradas. A vida de Meloso era repleta de altos e baixos, muito estress e desejo, exigia muito do emocional e físico. Fadigava.
Restava apenas aprender a conviver com isso.
Até tirou férias... Ficou um tempo fugindo delas para não atormentar mais sua vida, então cheia de responsabilidades, até que... O coração apertou, por aquela garota da qual havia se entregado um longo tempo atras, mas que desapareceu para não sofrer mais por amor à Meloso, que já havia entregado e estava se dedicando a outras naquele tempo.
Era como se ela percebesse que Meloso estivesse carente, prestes a se entregar denovo, e aí o desejo aflorou. Os sentimentos daquela garota estavam acumulados e guardados por aquele toque antigo. Mesmo ocupado aquela época, Meloso havia se entregado também por ela. A menina nunca dissipou todo carinho que havia recebido, e sempre houve esperança de que aquele toque antigo ainda a tocasse como nunca tocaram... Ela veio e se deixou tocar novamente por Meloso, que como costumava, abriu novamente seu coração e entregou a alma, deixando a garota disfrutar de todo seu mel, novamente...
Enfim, pra Meloso restava viver assim ou passar o resto dos tempos sozinho. E sozinho, ele nunca gostou.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

sábado, 8 de outubro de 2011

Ser ou não ser cuzão: você tem peito para ser livre?

Não importa se alguma situação limita um desejo ou sentimento, sempre existe um caminho alternativo rumo às conquistas mais preciosas. E existem conquistas que não podem ser barradas.

Nenhuma mente livre de verdade poderá ser aprisionada e quando me lembro disso, aí sim consigo pensar que a vida é fascinante. Acho que as pessoas que mais admiro têm justamente esse ponto em comum: eram [ou são] livres, não importa se estavam com seus corpos aprisionados a campos de concentração, se estavam cercadas de babacas ou se tinham qualquer outro tipo de prisão.

Dignos de pena são os que acham que dar liberdade tem alguma coisa a ver com amor, com “dar espaço”. Trata-se de uma conquista particular e não de algo que possa ser dado de alguém para alguém! Faz parte de um indivíduo escolher ser livre e como ser livre, em essência, em espírito e aos demais cabe a lição de aprender a respeitar as escolhas daqueles com quem se quer compartilhar algum tempo, experiências e até a vida (melhor ainda se compartilham da mesma perspectiva sobre o que e como ser livre).

Mente liberta, coração solto e a alma leve simplesmente independem de qualquer outro ser humano, somos os responsáveis por esse sentimento e é preciso ter coragem para assumir ser livre porque às vezes isso causa a perda de alguém que discorda de você.

O estado de liberdade deveria não depender de solidão ou companhia, tampouco do espaço, do dinheiro a mais, não deveria depender de fazer só o que te agrada, se sentir livre não deveria ser um estado que machuca alguém, porque isso não provoca leveza. Responder “estou satisfeito” quando te perguntam se você é feliz com sua vida também é atestado de medo de buscar o que te faz livre, o que te faria feliz de verdade.

Quem pode sonhar alto sem ser livre e como ser feliz sem poder buscar sonhos e renovar ideias para a vida? Quem consegue sonhar depositando culpa por falta de qualquer coisa em outra pessoa ou em alguma situação? Almas livres voam, não param para culpar ou para ficar corroendo tristeza, porque até nos momentos de tristeza saberão produzir algo que as deixará mais leves. E essas são e sempre serão aquelas que estão à frente de seu tempo. Raras.

[e como sempre, para tentar "harmornizar" texto e música: http://youtu.be/gwYla46lW78 ]


domingo, 4 de setembro de 2011

O Alcoólatra

Quando bem jovens só ouvimos histórias e comentários sobre as bebidas. Alguns bons, alguns ruins. Mas quanto mais amadurecemos, a curiosidade aumenta, e as condições ficam mais favoráveis ou liberais para começar a experimentar tal líquido.

Bom, tudo tem um começo e um fim. Já meio mal da cirrose, compartilharei aqui minha trajetória até o alcoolismo, do começo ao meio, porque o fim ainda não aconteceu.
Por que continuo? Mesmo que tenha ganhado uma bela doença, as bebidas podem ensinar muita coisa útil. Tem que gostar e curtir, tomar sincero, para entender o que cada uma tem a ensinar pra você, e por isso que não paro... Cada vez aprendo mais com elas.

Eu não queria começar pesado logo de cara, por isso comecei com os coqueteis. Eram leves, docinhos, e quase não faziam efeito.
Eu gostava, e gostava bastante.
Sempre teve aquele papo de que era bebida de menininha, ou que era pra quem não aguentava. Meus amigos ja bebiam coisas melhores, daí a gozação.
Mas realmente, no fundo eles tinham razão. Era uma bebida fraca, portanto um pouco sem graça, apesar de doce. E não podia misturar com outras, eu estava apenas começando, por isso continuei tomando os coquetéis. Continuei para acompanhar o ritmo de meus amigos, até entrar na monotonia.

Para ser sincero, não mudei muito... O que era vinho agora era pinga, mas no meio de um monte de frutas, coisas doces e tudo mais. Quase uma batida. Quase porque ainda não tinha muita graça, era apenas levemente mais forte.
Era uma bebida mais sociável, podia tomar em público que não seria zombado como se fosse o coquetelzinho. Mas, como já devem imaginar... Não deu outra.
A bebida mudou, mas a situação era quase a mesma. Não chegava à alegria, como costumavam dizer, e eu queria mais.

Enfim, a cerveja! Ahh, essa sim. Como todo moleque, tomava bastante, no começo pra dizer que tomava, mas eu não gostava muito. Demorou um tempinho até começar a gostar de tomá-la, e agora, eu ja acompanhava bem aos outros, mesmo considerando que eles já até tomavam uma vodca ou whisky.
A cerveja. Pra qualquer hora ou lugar, uma bebida ideal, e gostosa. Aliás, ela me deu o 2º porre.

Esqueci-me de lhes contar meu primeiro porre. Na verdade o 1º porre foi duplo, em dois dias seguidos... Resultado da mistura de um monte de coisa alcoólica barata e ruim das quais nem me lembro. Mas foi em uma viagem longe, onde todos bebiam tudo... Apesar de estar sempre atras deles, que já bebiam whisky e ja tinham dado um "Perda Total" eu que inaugurei o porre com bebida barata. Não satisfeito uma vez, fiz duas. Prazer, para os que ainda não me conhecem.

Voltando pra cerveja.

Enquanto a bebia, era muito bom. Ela me fazia sempre alegre, me deixava corajoso e bonito, e de vez em quando voltava correndo pra fora de mim. Bebida ideal. E por não ser muito forte, dava para beber uma cachaçinha, um licorzinho ou um vinhozinho para acompanhar a cerveja. Mas nunca misturava todas, era a cerveja e no máximo mais uma, de cada vez.
Essa era a bebida padrão, totalmente sociável.

Um belo dia resolvi experimentar a temida vodca.
Era forte, realmente... Tanto o gosto quanto a presença. Presença porque em meio ao público não pegava bem. Eu ficaria facilmente mal-visto, por isso só meus amigos sabiam. Não bebia na presença deles nem de ninguem, mas eu gostava de dar umas goladas da malvada, por isso bebia sozinho. Comprei minha própria garrafa.
Nunca deixei de tomar a cerveja, mas às vezes variar com uma destilada era legal. Tomava sempre com moderação. Cheguei muito perto de exagerar na dose. Ainda não havia experimentado um porre forte da vodca... Fiquei frustado por causa disso.

Bem, enquanto estava nesta, estava bom. Tinha experimentado quase de tudo, até whisky eu já tinha bicado, embora não gostasse. Quando de repente:
_"Ei amigo, tome esta aqui!" (referindo-se à tequila.)
Foi amor ao primeiro shot. Forte como vodca, sociavel como a cerveja. Bebida cara.
Quando dei por mim, eu já não tomava mais cerveja, só tequila. O 1º porre dela veio rápido, e não foi único, era toda hora.
Me deixava louco em todos os sentidos, não vivia sem ela. Toda hora era hora para um "shotzin", como diria um de meus amigos.
Enquanto todos na mesa tomavam a cerveja e outras leves, eu já as abandonara.
É lógico que toda essa intensidade foi insana, e foi nesta época que ganhei minha doença.
Não fui para a reabilitação, mas com ajuda de meus amigos e ajuda própria, consegui sair do vício. Era isso, ou a necrose hepatocelular e múltiplos nódulos acabariam de vez com minha saúde, quem sabe até com minha vida. Um resquício de responsabilidade me salvou.

Nenhum vício acaba de uma hora para a outra, por isso voltei um pouco às cachacinhas e vodcas, que não me viciavem mas propiciavam belos momentos, de alegria e descontração. Quase tomei outro porre da vodca... mas depois disso vi que foi melhor assim. Hoje não consigo nem sentir o cheiro dela direito, abdiquei de vez. Estou forte!

As doses foram diminuindo, e eu até achava que me tornaria um "bebo socialmente".
Como já devem imaginar, completamente enganado.
Achei o champagne.

Pode ser engraçado à essa altura, mas depois de tudo que passei, essa sim era ideal. Era docinha e leve.
Meus amigos ainda tomavam cerveja, whisky, cachaça e vodca, e eu já tinha parado. De vez em quando pedia meu champagne para "acompanhá-los".
Mesmo que fosse bebida de mulher e fosse bastante caçoado, eu ja havia passado por bastante problema, e ela era a unica que me deixava tranquilo, em paz, e com aquele gostinho de quero mais depois. Mas estou indo bem devagar, não quero me viciar logo de cara.

Tenho que ir devagar, por isso ficava só no champagne, e só de vez enquanto. Mas os amigos estão sempre aí...
_"Ei amigo, vamos tomar uma diferente desta vez?"
Não sou de recusar convite, fui tomar um martini com ele.
Antes de tomar ele já havia me avisado que era razoavelmente forte, e que eu poderia passar mal se abusasse.
Bom, a verdade é que ela era muito gostosa, gostei de tomar, e queria tomar também um porre, depois de tanto tempo bebendo responsavelmente.
Esta bebidinha não fez mal nenhum, foi só para alegrar o dia mesmo, e nada como beber algo novo na companhia de amigos.

Bem, é o máximo que consigo contar até aqui.
Alguns devem estar se perguntando onde estão as grandes lições que as bebidas me ensinaram.
Se você é um desses, sugiro que releia o texto com mais atenção e criatividade. Se mesmo assim não resolver, eu aceito um convite para um conhaque, do qual não experimentei ainda.
Quanto ao meu futuro? Bem, não adianta perguntar o futuro de um alcoólatra. O que um alcoólatra vai beber, quanto, quando, ou se vai parar de beber, isso acho que só Deus sabe.
Até mais amigos, tenham um belo enquanto tomarei mais um gole de meu champagne.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Um humilde presentinho...

Não vou escrever nada hoje, apenas queria deixar um texto - que não é meu - mas que me identifico muito, e quero deixar de presente para meus queridos Josias e Sofia

"Pessoas com vidas interessantes não têm frescura. elas trocam de cidade. investem em projetos sem garantia. interessam-se por gente que é o oposto delas. aceitam um convite para fazer o que nunca fizeram. estão dispostas a mudar de cor preferida, de prato predileto. começam do zero inúmeras vezes. não se assustam com a passagem do tempo. fazem loucuras por amor, compram passagens só de ida..."


Desejo tudo de mais bonito pra vocês, que vocês vejam as coisas mais lindas, aprendam coisas novas, ensinem coisas novas também, voltem com lindas histórias, amigos e amores...

Muito, muito carinho para vocês

domingo, 7 de agosto de 2011

O Mendigo

Coloca o saco enorme e pesado no chão.
Começa tirando o colchão, ja com molas quebradas. Tira o cobertor, que também é telhado, deita-se, liga o radinho de pilha que já não sintoniza direito e da uma bela golada da granadinha Pedra 90. Tudo isso bem ali, do lado do posto de esquina, embaixo da loja de assistência técnica de fogões e bem perto do farol daquela grande avenida

E assim começa a vida do mendigo, que acabara de optar por aquele jeito de viver.
Era novo, não sabia o que levar, o que comprar, onde conseguir dinheiro e onde ficar. Ja ouviu muitas sugestões de quem gostava ou não da idéia, mas acabou decidindo por si só. "Vou morar na rua!".

Mas o mendigo era novo, inexperiente. Durou pouco até perceber que incomodaria um bocado onde estava, e percebeu tarde, bem no momento no qual o levaram para um abrigo.
A primeira tentativa foi frustrante, e insuficiente. "Quero a rua denovo!"
Conversou bastante com os outros do abrigo, fez amizades, e ouviu alguns reclamarem e outros elogiarem da vida nas ruas.

A sua vontade de voltar era enorme, e ele não passava vontade.
No mínimo descuido da segurança, apanhou os pertences e pulou a grade do abrigo.

Da segunda vez usou um pouco da inteligência. Instalou-se em um lugar isolado onde conseguiria fila o resto da comida do restaurante e onde não incomodaria ninguem...
Ali ficou bastante tempo, mas não conseguia disfrutar da liberdade e curtição das quais uma situação daquelas permitiria, e a monotonia veio, e cresceu, e cresceu, e cresceu.
A chatisse acumulou e com raiva arrumou briga que resultou na volta para outro abrigo.

Estava quase desistindo da idéia de voltar para as ruas. Aquele outro abrigo era grande, tinha muita gente, a comida era boa e poderia dormir bastante.
Jogou baralho, tomava bebida escondida, não passava frio ou chuva e ainda conseguiu furar com uma outra que já se acostumara no abrigo. Aparentemente não tinha o porquê de sair dali.
Mas, a vida é uma jornada, não um destino. Não conseguiria completar sua jornada ali. E veio uma vontade súbita de querer ir embora.
Depois de 3 tentativas dentre 2 meses onde fora apanhado pelos guardas, conseguiu novamente sair.

O mendigo já estava experiente, por isso alojou-se naquele bairro sem segurança e com muitas almas bondosas que o sustentavam com óbulos.
Alí sim... Bebia quando queria, jogava com outros mendigos, ia nas festas de rua, ouvia o seu radinho e zombava de quem passasse por ali na calçada. A vida que queria.
Mas o mendigo também era gente, e como qualquer outro ser humano, não estava satisfeito. Queria muito mais.
Trocou de bairro, foi para a ala dos traficantes. Lá usou drogas que nunca havia usado, misturava com bebidas e brigava com gente que poderia lhe tirar a vida facilmente. Teve overdoses.
Foi intenso, e foi trágico. À beira da morte causada pelos tóxicos, desnutrição e hipotermia, chegam as viaturas para acabar com a festa do tráfico e levar as vítimas para um lugar seguro, conhecido como abrigo.

Passou maus bocados, e viu que a vida nas ruas pode ser bem perigosa, até fatal.

Parece fácil abominar o tipo de atitude de um cara desses, onde o normal é não morar na rua. Passava frio e chuva às vezes, mas ele não trabalhava, bebia sua birita quando bem quisesse e era invisível à maioria, ou seja, não lhe enchiam o saco. Enfim, ele gostava daquela vida, era tranquila e boa desde que não fosse idiota como da última vez.

Aquele abrigo sim. Era maior ainda que o último. Com mais gente. E mais mendigas.
Todos se gostavam la dentro, e poucos cogitavam sair dalí.
Mas ele não podia, ali, beber sua granadinha. E tinha que trabalhar por sua comida. Estava seguro, mas não estava imune à sensação de liberdade e aos benefícios da sua rua, na qual vivera tanto tempo e ja estava acostumado. Ele nem lembrava mais de como era não viver na rua.

Durante as conversas muitos tentavam o convencer de que tinha que ficar alí, mas é difícil convencer alguem que assume sua personalidade A.
Pensou...
Ponderou as circunstâncias...
Pensou mais.

Não teve jeito, o coração ja estava apertado:
Pulou o muro, e foi embora no meio da madrugada.
Daquela vez ele até já sabia onde moraria, decidido a levar a vidinha do qual estava acostumado.