terça-feira, 12 de julho de 2011

Conto #Não-me-lembro

O reflexo do Sol da manhã me faz acordar do sonho esquisito.

Acordei...

Acordei?

Abro o olho, e apenas isso. Percebo que dormi com um travesseiro diferente daquele das ultimas noites. A cama era diferente também, menor. As paredes não estão mais no mesmo lugar.

Sem movimento bruscos apenas passeio o olho pela cena. Logo menos, sem antes entender qualquer coisa, começa a tocar um heavy metal.
O Sol ainda tímido e já o heavy metal. Alto.
A dor fadigada de meus braços e pernas, estômago estufado, língua dormente, o mal-jeito de dormir no pescoço, "música" alta, e uma leve lembrança do que aconteceu, ainda no quarto, concluíram o cenário do inferno!

Já sei, vou dormir...
...
...

O inferno não me deixou dormir.


Já sei, vou acordar, ainda é um sonho... Eu sei que é.
Eu juro que é!
...
...

Tomara que seja...
...
...

Fudeu!!!

À mínima oportunidade que eu tivesse de sumir, desaparecer, eu o faria.
Pular da janela é arriscado, pois eu nem sabia (e até agora não sei) em qual andar estava.

Bom, em uma situação dessas, como diria o velho ditado: "Se você está no inferno, abrace o capeta!". E foi isso que fiz. Era o mínimo que eu podia fazer.


Os únicos que poderiam me ajudar estavam bem perto, meus amigos! Um estava logo acima, o outro, logo alí atras da parede. Foram poucos os que cumpriram a missão e escaparam à tempo. E eu, com essa mania de conseguir aproveitar o pior que a vida pode lhe oferecer, o fiz bem-feito.

O gosto de linguiça na boca e a barriga esturricada do gás da cevada me fizeram lembrar um pouco do churrasco. Bem pouco.

Saí para a sala, e jurava que nunca havia visto tal cômodo.
E lá estavam eles: meus amigos. Não tive palavras pela satisfação que tive quando os vi, e o sorriso de satisfação deles ao me ver, foi impronunciável. Não vale a pena comentar, Meninão...

A Coca-quente-sem-gás-com-energético-barato, que era a única bebida "potável" não alcoólica no momento, lembra-me o que anestesiou minhas dores e me deu disposição. Não devia ter tomamo aquela merda ontem, quem sabe eu tivesse cansado e ido embora!
Ou não devia ter comido, pra passar mal de vez e assim evitar o que inevitavelmente acaba acontecendo hora e outra. Péssima mania.

Ou deveria ter pulado da janela quando pude...

Eu era o único que queria ir embora. O inferno prendeu meus amigos, mas não a mim.
Descobri também que lá, cada minuto demora meia hora.

Que se dane, pois como um velho amigo me disse, a vida é a arte de simular.
Simulei.
Todos riam de cenas engraçadas e piadas sem graça.
Eu também ria, mesmo que ainda estivesse pensando em como desaparecer dali e não achasse graça delas. Nisso as lembranças vieram. Uma a uma.
Uma de cada vez.
Lentamente.
Agonia.
Desespero.

Conversei, bebi mais um pouco (embora quisesse me embriagar), senti algumas dores a mais em lugares onde eu não havia percebido (o que me preocupou). Mas deixa pra lá.


Depois de horas, no tempo do inferno, finalmente fui libertado.
Entrei no elevador, apertei o botão "Vida real", e voltei pra casa olhando as belas quebras de onda e a brisa morna de uma manhã agradável.


Depois de uns 2 dias de uma das piores ressaca moral que tive, valeu a pena. Eu estava com meus amigos em um lugar onde nunca estivemos, fizemos coisas inéditas (sempre), e guardei mais uma para meu livro do qual pouquissimos tem acesso, e provavelmente será inutilizado e queimado algum dia mais pra frente. Talvez anos mais pra frente.

2 comentários:

  1. Bela entrega para descrever impressões. Fictício ou não, achei interessante a forma como o texto exprime as sensações!

    Beijos caríssimos, saudades!

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